Caminhar...
Ao andar pelas ruas me percebo, percebo os outros, percebo a vida. Vou
percebendo a minha volta. Penso no passado, presente, planejo o futuro. Sonho
um futuro. Na minha cabeça vêm apenas, sem sentido nenhum, rascunhos do que
aconteceu e do que acontecerá. Não sei onde vou parar, mas estou caminhando.
Ah
o caminho...!
Esse
é longo. Nele me imagino forte, sorridente, motivada e acima de tudo educada. –
amo a educação – aquela educação que diz: sinta tudo que tem pra sentir,
ofereça aos outros o que eles merecem, recompense quem faz jus, mas não o
julgues; aquela educação que me faz romântica, porém realista. Ela que me faz
ser simpática e fervorosamente rígida. A minha rigidez é apenas para me proteger
e proteger meus valores... Aqueles velhos ideais; é para tentar ser justa
comigo mesmo e com os que me rodeiam. Justiça, talvez não seja, mas confundo
com empatia. Isso me faz querer ser melhor para todos, remar contra maré e em
algumas vezes desistir. Pensar demais, silenciar.
Silenciei, havia muito a dizer. Mas tudo sem tradução. Ainda busco
as palavras, investigo as emoções. A saída foi silenciar para observar melhor o
que tem acontecido, o que tenho sentido, o que está se realizando. Há quem diga
que silenciar é um dom. Pra mim sempre foi um suplício, mas agora silencio em
paz. O que venho sentindo é tão forte que me cala completamente, que me mantém
estática, as vezes perplexa. Embora chocante, é justamente esse silêncio que
está me salvando agora. Minha alma anda exigente e seus gritos acumulam-se ao
ponto de ocultarem-me os caminhos, as respostas mais básicas, toda a direção.
Melhor permitir-me calar para, quem sabe, ouvir, traduzir, compreender. Costumo
insistir tanto que até esqueci o quando a insistência me irrita. Deve ser isso.
Teimar é um tipo de burrice, de adiamento. Agora que tive coragem de desligar
meus sons, entendi: há momentos em que não adianta fazer nada, só esperar. E a
espera mais sã e suportável acontece em meio a quietude.
Todavia,
na maioria das vezes sou barulhenta e bagunceira, e isso me torna insensível
com os quietos. Com a verdade profunda. Com você, que nutre uma quietude que
não aplaca apenas a fala, mas também os olhos, os movimentos, as intenções. Não
consigo te ler! O não saber o que esse silêncio impõe sempre me incomodou
demais, porque eu preciso saber das coisas, gosto de ouvir o barulho das
aflições, das exuberâncias, das contenções, das saliências, das dúvidas, das
verdades, dos absurdos que compõem cada pessoa. Por mais incertos e
tresloucados que sejam esses impulsos, prefiro ouvi-los. Assim como prefiro,
desajustada, emiti-los.
Essa
minha mania de viver depressa demais não deixaria mesmo quase nada escapar, daí
a vontade louca de tomar tudo em um gole só. Mas há coisas, sentimentos,
vivência que não é pra ser tomado em goles, quanto mais em um só. O ser humano
é um oceano inteiro. Um oceano de águas inexploradas – as vezes temidas, as
vezes desafiadas sem qualquer prudência, mas nunca navegadas de verdade. E só
agora me dei conta que o silêncio é uma defesa. É a forma que se encontra de
proteger-se dos medos, das grandes constatações, das próprias revelações. Então
você se veste de jangada e se lança à deriva de si mesmo, e quem sobrevoa os
sentimentos e as próprias experiências, se atenta à jangada solitária, podendo
esquecer o oceano que és. E lá estou. Aparentemente feito de águas calmas e
desabitado. - Mas apenas aparentemente -
Escondida e inalcançável.
Senti-me
culpada agora. Por fazer tanto barulho. Por não compreender o silêncio alheio.
Por não respeitar a autoproteção em forma de sigilo. Por querer fazer onda em
um mar congelado. Só agora entendo muitas das coisas que me disseram sem emitir
ruído algum. Talvez eu aprenda a poupar também as cordas vocais da minha alma,
que berra o tempo todo, propagando minhas ânsias aos quatro ventos, enquanto
outros fazem apenas se embutir no silêncio. Talvez eu aprenda, finalmente, a
não impor minha música pobre aos ouvidos que me circundam.
Senti-me
egoísta e infantil agora, porque muitos suportam as intempéries do tempo e do
clima sem reclamar. Sozinho. Calado. Recebe e acolhe as gotas e os granizos
despejados pelas tempestades que eu e outras nuvens pesadas impomos. Mesmo
assim mantém vivo. Poderia nos afogar se quisesse, mas prefere afogar-se no
próprio mistério, e isso torna o ser cada vez mais profundo, mais distante da
superfície. Mais calado.
Durante
este trajeto, observei alguns olhares. Sem pensar apenas em mim, sem querer
tanto, sem intenção nenhuma. Olhei em sossego e com o único intuito de buscar
ser melhor, deixando o passado de lado, vivendo o presente, sonhando o futuro
ansiosamente. Foi aí que enxerguei mais do que a jangada. Foi quando me atentei
à infinidade que é do outro e à minha superficialidade. O outro pode ser
um mar repleto de tesouros e de histórias. De águas límpidas, mas não transparentes.
Um oceano de segredos impenetráveis. Uma dessas “obras de arte” natural que
ainda não encontrou um explorador à altura. Só o silêncio.
Seria
condicionamento ou Motivação?
É
durante esse silencio que percebo o quanto as condições trazem ou levam consigo
a motivação. Existem as oportunidades, resta aproveita-las. Está sempre atento
e possuir a vontade de tentar, a inteligência de tentar. Pois as condições
trazem motivações e as motivações fazem as condições.